domingo, 12 de outubro de 2014

Passa(n)do

Um só olhar no espelho. Meu olho encontra o que não sabia que sou, mas o que com certeza achava que era. Uma só lágrima derrama ao rosto, enquanto minha voz aumenta de maneira ensurdecedora. E então seguem as lágrimas do rio.
Nunca cantei tão bonito quanto nesse momento. As lágrimas, ao invés de bloquearem minha garganta como geralmente fazem, fizeram com que minha dor saísse pela boca. Um só grito. Uma só canção.
Sabia que outros estavam ouvindo, mas não havia problema. Nenhum poderia entender o que passava naquele momento. Todos se perguntariam o que havia acontecido com a criatura que gritava. Eu as responderia que cantava como sempre cantei, mesmo sabendo que não acreditariam em mim.
A dor de me libertar da dor é que me fez cantar. Não sei o quanto estou ou não estou pronto para me livrar do passado. Para perpetuá-lo no real passado. Me dói pensar, mas me dói bem mais pensar em não pensar.
Mas agora é momento de secar o rio. Momento de fechar a porta e silenciar o grito. Momento de viver a vida como ela sempre foi. Esquecer faz parte de um processo muito grande de sabedoria.

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