segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013


*Whispers* - "We're still gay".

Sobre o medo.

O medo do escuro não me fez desejar que o escuro deixasse de existir. Ele existia, eu o evitava, mas tinha plena consciência de que ele nunca deixaria de estar lá.
Com o tempo, fui me adaptando e hoje aceito o escuro como um velho amigo de infância. Ele até me conforta quando eu preciso dele. Me sinto mal de tê-lo julgado mal há tantos anos, mas ele com certeza não demonstrou nenhum ressentimento, pois já está acostumado com esse tipo de medo. Medo do desconhecido e do que pode surgir de dentro dele.
Inclusive me levou um tempo para descobrir que não era o escuro que eu deveria temer, e sim o que poderia vir com ele. Alguém à espera, algum animal ou um simples susto. Nada daquilo deveria ter existido, mas tive o medo, e não posso negá-lo.
Este foi um dos medos intrínsecos à mim. Nasci com ele, e mesmo assim consegui superá-lo. Talvez por eu tê-lo cultivado sozinho tenha sido mais fácil me livrar dele.
Mas existe também o medo que lhe é alimentado por terceiros, e desses é um tanto mais difícil se livrar. Porque mesmo que você consiga, não conseguirá convencer seja lá quem lhe implicou o mesmo de que não há o que temer. O que aprendemos é bem mais difícil de ser desaprendido.
Desde cedo fui ensinado a ter medo de "gay", seja lá o que fosse.
Se "tornar" um, então, estava fora de cogitação. Algo tão abominável que eu não conseguia nem ao menos dormir à noite por causa desse meu novo maior medo.
Desde sempre soube que, por mais que temesse, havia algo de diferente comigo. Eu não pensava, agia e nem ao menos pensava como os outros. Mas sempre pensei ser possível escolher quanto a isso.
Então sempre me esforcei para escolher o "certo". Sempre me forcei a vigiar meus pensamentos e atos. Qualquer escorregada poderia ser fatal, principalmente para alguém que estava "com a mente em formação".
Esse medo me aterrorizou por anos a fio. Logo não conseguia mais cuidar de mim mesmo, e fui deixando que esse instinto natural tomasse conta de mim.
Ao trocar de ares e pessoas ao meu redor, percebi que não tinha do que me envergonhar. Muitos já haviam sofrido o que sofri, e seus sofrimentos só cessaram quando haviam parado de tentar não ser o que, de fato, eram. Foi quando aceitei e parei de temer.
Parei de ter medo do escuro. Parei de ter medo de ser algo que não é ruim e não há motivo aparente para esse medo ter existido. Somente o fato dele ter sido implantado na minha mente.
Não havia por que temer o escuro. Ele nunca me fez nada de mal, e evidentemente era inocente. Também não havia por que temer ser o que sou, afinal, mesmo sendo o que muitos condenam, eu nunca fiz real mal à alguém, e nem faria. E se o fizer (assim como acredito que muitos como eu, podem fazer) não tem nada a ver com o que sou, e sim com outros aspectos.
As pessoas (e eu sou uma delas, então não me excluo ao dizer isso) tendem a temer o que não conseguem compreender ou o que não conhecem. Têm medo de que tudo mude. Preferem viver no conformismo que o mundo tem vivido por tantos anos.
Passe a olhar à sua volta. Veja como tudo é muito mais simples do que parece ser.
Não há o que temer, se você realmente abrir seus olhos e deixar que o medo se vá.

Sobre o Silas Malafaia (e na verdade, sobre todo e qualquer líder de qualquer religião que compartilhe de suas ideias)

Não é o que ele pensa o que me preocupa. Nem mesmo quem ele influencia. Ideias e opiniões nunca chegaram a me ferir.
O que acho mais imperdoável é semear esta grande mensagem de ódio em locais onde o amor deveria ser, mais do que em qualquer outro local, celebrado. Onde pessoas deveriam falar em ajudar outras pessoas. Onde seres humanos deveriam simplesmente praticar o ato de respeito entre outros seres humanos, tal qual com todo o mundo.
Acho incrivelmente terrível que essas ideias sejam espalhadas e semeadas em locais onde pessoas, as quais são condenadas, buscam conforto, compreensão e palavras que façam o medo passar. E, ao invés, encontram ódio e pessoas dizendo que o que elas são (e não importa o quanto tentarem, não vão mudar. Não vão mudar de modo algum, porque ninguém consegue mudar o que é. É como tentar mudar de cor, de alma...) é condenável, passível de exilamento na eterna danação.
Essas pessoas, de uma forma ou de outra, vão ser reprimidas, não vão poder amar, não vão conseguir ser felizes e vão viver o resto de suas vidas num simulacro da felicidade e da vida.
É simplesmente injusto alguém decidir por você se você pode ou não viver como os outros. O que há de determinante? Quem realmente pode dizer o que é certo ou o que é errado?
A sociedade vem se adaptando a tantas mudanças (felizmente, é claro). Como não vamos aceitar algo que, desde sempre, é tão natural? Por puro e simples medo? Medo de mudar demais?
O mundo não vai parar, nem girar em sentidos contrários se você simplesmente deixar de importunar pessoas que precisam da sua ajuda.